Dia Mundial de Combate ao Câncer de Próstata: entrevista com o urologista José Nivaldo Fim

Todo 17 de novembro marca o Dia Mundial de Combate ao Câncer de Próstata. A data não é por acaso: foi em 17 de novembro de 2003, na Austrália, que o movimento Novembro Azul foi criado, com o objetivo de chamar a atenção para a prevenção e o diagnóstico precoce das doenças que atingem a população masculina, principalmente o câncer de próstata.

Aproveitando a data, batemos um papo com o Dr. José Nivaldo Fim, médico urologista do Hospital Santa Mônica e da Clínica de Especialidades. Ele falou sobre o câncer de próstata e suas características, a importância do diagnóstico precoce e a necessidade do fim do preconceito em relação ao exame de toque retal, entre outros pontos. Confira abaixo:

O que é a próstata e qual a sua função?

A próstata é uma glândula que faz parte do sistema reprodutor masculino. Ela produz secreções que compõem o volume seminal, importante para a fertilidade. Então, ela está tanto envolvida no processo sexual do homem, como também da fertilidade masculina.

Por que o câncer de próstata é tão perigoso para o homem?

O câncer de próstata é o segundo tipo de neoplasia maligna que mais acomete o homem. Há uma grande relevância, até pelas consequências quando ele não é detectado precocemente. O ideal é todo câncer ser detectado precocemente, principalmente o da próstata porque, uma vez ele avançando além da próstata, você perde a chance de cura.

Por isso o preventivo é importante. Na fase inicial, é um câncer totalmente assintomático. Esse é o momento oportuno de diagnosticá-lo, quando ele ainda está localizado apenas na próstata.

Quais as consequências de não descobrir o câncer de próstata precocemente?

No momento em que você faz o diagnóstico tardio do câncer de próstata, há a perda do momento de cura. Então haverá tratamentos mais agressivos e sem o objetivo da cura do paciente.

O câncer de próstata, uma vez em metástase – metástase óssea principalmente –, prejudica demais a qualidade de vida do homem, trazendo muito sofrimento na fase final da doença.

A partir de quando o homem precisa começar a fazer o acompanhamento?

O câncer de próstata tem uma característica familiar muito peculiar. Então, quanto mais familiar de primeiro grau (pai, irmão, tio) acometido, maior o risco. Para quem tem casos na família, a orientação é que comece o diagnóstico com preventivo mais cedo, com 45 anos ou até 40 anos de idade.

Quem não tem casos na família pode começar a partir dos 50 anos de idade. O fator familiar é de extrema importância, mas também há casos em que só existe um acometimento na família. Não ter casos na família não garante que você está afastado de ter um câncer de próstata.

O preventivo é para todos os homens. Quem quer ficar mais tranquilo, pode começar a avaliação a partir dos 40 anos. Vale lembrar que o urologista não vai avaliar somente a sua próstata, mas vai ver a sua saúde como um todo. É uma oportunidade que o homem tem de falar sobre a sua vida sexual e relatar outras queixas que ele possa ter. O urologista aproveita o momento para investigar a saúde masculina.

Tem algum outro fator de risco, além dos casos na família?

Há outras características. Por exemplo, o câncer de próstata acomete mais em homens negros e em homens obesos. Esses também são fatores de risco. Mas, o fator primordial ainda é o familiar, o hereditário.

Como é feito esse acompanhamento?

O que compõe o preventivo do homem em relação à próstata: há o exame físico, realizado no consultório, que é o exame de toque retal. É um exame de extrema importância, só que muitos médicos e muitos serviços estão deixando de lado. Mas, ainda não é um exame que consegue ser substituído pelos demais.

 Depois, o homem faz um exame de sangue, o PSA – sigla em inglês para Antígeno Prostático Específico –, e há também o ultrassom, que avalia, principalmente, o tamanho da próstata. Mas, basicamente, o preventivo é o PSA e o exame de toque retal.

Principalmente na forma de piadas, ainda há um grande preconceito com o exame de toque retal. Qual a importância de uma maior conscientização dos homens, de que o exame é algo sério e determinante para a cura do câncer de próstata?

Infelizmente, a nossa sociedade ainda é muito machista. Ainda há muitos homens que não vêm (ao consultório) pelo fato de serem machistas e, principalmente, não aceitarem o exame de toque retal.

Felizmente, isso vem diminuindo. Paulatinamente, observamos que isso diminui. Normalmente acontece com as pessoas de mais idade, que têm uma formação antiga, que trazem muita coisa do passado. Mas, como falei, isso vem diminuindo.

Fale sobre o Novembro Azul:

Outro motivo para focar muito no Novembro Azul, que é um momento de lembrar, divulgar a importância desse atendimento da saúde masculina, é o fato de já estarmos convivendo com a pandemia há dois anos e muitos pacientes ainda estão afastados de nossos consultórios. Precisamos que esses pacientes retornem, para que eles possam dar continuidade aos seus preventivos e, aquele que nunca fez, procurar fazer o quanto antes.

O Novembro Azul é de extrema importância para essa divulgação, de conscientizar o homem de que ele tem que procurar um urologista para avaliação não só da próstata, mas da sua saúde como um todo.

As mulheres também têm grande importância nessa campanha, porque normalmente elas cobram dos seus maridos, parceiros, familiares, para que eles busquem atendimento médico. As mulheres vão muito mais ao médico do que os homens. Elas já têm esse hábito há muito mais tempo. Então, elas podem participar do Novembro Azul cobrando que eles compareçam ao consultório médico para cuidar da sua saúde. Repito, não só da próstata, mas da saúde masculina como um todo.